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Tenho sonhado tanto contigo avô.
Tenho sentido tantas vezes o teu cheiro sempre que conversamos – aquela mistura de barba recem-feita com o inconfundível tabaco.
Depois de passar o pano húmido e amarrotado (para limpar os sinais do tempo que já te levou), de por a tua rosa branca e ajeitar as fores tristes que a avó sempre deixa, sinto-te tanto.
Fecho os olhos e encosto a cara à tua mão, porque sei que estás ali, a acariciar-me o rosto. Só não percebo se com orgulho, com desilusão ou vergonha (ou apenas para amparares os bocadinhos de coração e de alma que me estão sempre a cair, e que não te deixam descansar de uma vez por todas).
Tiras os óculos da mesma forma como sempre o fizeste, para me olhar com a tal ternura e para me fazeres perceber – mais uma vez – que existimos apenas Tu e Eu. O resto não importa. Voltas a ter os olhos mais verdes do mundo na minha direcção e o toque da tua mão torna-se mais forte do que nunca. O cheiro, os olhos, o tacto! É tudo quase tão real. Não é avô?
Sinto-te porque preciso de o fazer. Porque o silencio, o silencio avô, já não me é suficiente.
Tenho-te sentido tanto. Preciso tanto de ti.
Canso-me de te perguntar se estás orgulhoso de mim. Dá-me outra resposta. Vem buscar-me. Leva-me daqui!
Quero estar contigo outra vez avô. E juro-te, quando te encontrar, seremos tu e eu, para sempre. Não largarei a tua mão pela terceira vez. Juro-te!
E já nada do que escrevo aqui parece ter sentido.
Às vezes dou com a avó a olhar para o lado e com os olhos quase fechados. Eu sei que ela está a pensar em ti. E dentro de dias fazem 4 anos que nos (me) mataste. 1460 dias a desejar morrer para estar contigo. Nem nunca me soubeste dar uma explicação. Desapareceste e pronto. Não tinhas esse direito.
Desculpa se também te matei. Tu continuas a matar-me e eu não sou capaz de te desculpar. E mais do que nunca, o silêncio já não basta.
Ultimamente, dou comigo a olhar para o lado.
E com os olhos quase fechados.
Já nada do que escrevo aqui, parece mesmo ter sentido.
* Entrei na faculdade avô.
A avó está sempre a dizer, que se cá estivesses isto seria diferente. E que os pais não teriam estas dificuldades.
Ela não percebe que tu estás aqui. - E é por isso que não temos (tenho) mais dificuldades.
Estás orgulhoso de mim? (eu sei que sou chata sempre com a mesma pergunta. Mas tu também tens sempre a mesma resposta. O silêncio. E o silêncio não é suficiente)
Tenho sentido tantas vezes o teu cheiro sempre que conversamos – aquela mistura de barba recem-feita com o inconfundível tabaco.
Depois de passar o pano húmido e amarrotado (para limpar os sinais do tempo que já te levou), de por a tua rosa branca e ajeitar as fores tristes que a avó sempre deixa, sinto-te tanto.
Fecho os olhos e encosto a cara à tua mão, porque sei que estás ali, a acariciar-me o rosto. Só não percebo se com orgulho, com desilusão ou vergonha (ou apenas para amparares os bocadinhos de coração e de alma que me estão sempre a cair, e que não te deixam descansar de uma vez por todas).
Tiras os óculos da mesma forma como sempre o fizeste, para me olhar com a tal ternura e para me fazeres perceber – mais uma vez – que existimos apenas Tu e Eu. O resto não importa. Voltas a ter os olhos mais verdes do mundo na minha direcção e o toque da tua mão torna-se mais forte do que nunca. O cheiro, os olhos, o tacto! É tudo quase tão real. Não é avô?
Sinto-te porque preciso de o fazer. Porque o silencio, o silencio avô, já não me é suficiente.
Tenho-te sentido tanto. Preciso tanto de ti.
Canso-me de te perguntar se estás orgulhoso de mim. Dá-me outra resposta. Vem buscar-me. Leva-me daqui!
Quero estar contigo outra vez avô. E juro-te, quando te encontrar, seremos tu e eu, para sempre. Não largarei a tua mão pela terceira vez. Juro-te!
E já nada do que escrevo aqui parece ter sentido.
Às vezes dou com a avó a olhar para o lado e com os olhos quase fechados. Eu sei que ela está a pensar em ti. E dentro de dias fazem 4 anos que nos (me) mataste. 1460 dias a desejar morrer para estar contigo. Nem nunca me soubeste dar uma explicação. Desapareceste e pronto. Não tinhas esse direito.
Desculpa se também te matei. Tu continuas a matar-me e eu não sou capaz de te desculpar. E mais do que nunca, o silêncio já não basta.
Ultimamente, dou comigo a olhar para o lado.
E com os olhos quase fechados.
Já nada do que escrevo aqui, parece mesmo ter sentido.
* Entrei na faculdade avô.
A avó está sempre a dizer, que se cá estivesses isto seria diferente. E que os pais não teriam estas dificuldades.
Ela não percebe que tu estás aqui. - E é por isso que não temos (tenho) mais dificuldades.
Estás orgulhoso de mim? (eu sei que sou chata sempre com a mesma pergunta. Mas tu também tens sempre a mesma resposta. O silêncio. E o silêncio não é suficiente)
Enlouquecida e Farta de sentir saudades.
Cansada de chorar e de não gritar.
Com medo de afinal não te sentir, e de viver para sempre no nosso silêncio.
Medo. sobretudo medo.
a tua poetisa
5 Comments:
E muito bonito...
Não gosto de ler o blog dos outros, normalmente, sinto que isso funciona quase como uma invasão de privacidade! mas nao sei porque, hoje vim ver o teu!
Não precisei mais do que 10linhas, para sentir aquilo que queres transmitir!
Ao teu avõ? como te compreendo...
Ah, minha nina, que bom que pudeste ter um avô assim, o meu era o melhor do mundo como se costuma dizer!...Eu apenas passava férias com eles, pois viviamos em Lisboa e eles no Norte, perto de Montalegre, numa bela aldeia e onde me sinto a contento... O mê avô Manuel adorava-me e deixava-me estravassar o que sentia, e ainda puxava por mim...Claro que eles quando podem estão connosco, sempre orgulhosos façamos o que fizermos, eles entendem-nos melhor de onde estão...Mas tu podes fazer por ti, fazer tudo da melhor maneira que souberes e ele ficará ainda mais feliz por ter uma neta lutadora, estudiosa, enfim, uma neta à maneira!
Eu também habito o mundo da saudade, ele é lindo, mas não me deixo dominar por ele, o mundo em que vivemos precisa de gente lúcida...e deste lado!... Tens tempo de ir para lá, tens a tua preciosa Missão a cumprir ainda, e tem calma, é lindo viver, quando não dá para viver de uma forma, vive-se de outra! É preciso é puxar o alento e subir, subir sempre...
Beijinho grande a ti... Ainda tens a tua avó e eu não, e ela era uma querida e meiga avózinha...
Beijinhos, tenta adoçar a saudade e vai por ai a distribuir sorrisos aos mais necessitados dele...eu faço isso, sabe tão bem sorrir e quem recebe fica feliz.
Té depois e fica bem... O teu avô fica feliz se estiveres bem e sabe que o amas e amarás sempre...
Vim conhecer-te...li tudo o que escreveste...desculpa dizer-te mas tens que começar a escrever sobre outras coisas mesmo que seja com o teu avô ao lado!
Vive amiga,vive cada dia, cada momento, mas não deixes que a Vida tome conta de ti...beijo
Beijo para ti..Grande, grande....
Tens aquele estilo de escrever que eu muito aprecio e que está ao alcance de poucos...
Sabes o meu Blog acabou...mas fica atenta porque o meu dono já por aí anda...
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