terça-feira, maio 31, 2011

17

Deixei-te uma fita na minha pasta. Só os outros é que vão perceber que está em branco.

Espero-te Sábado avô.

A avó escreveu na fita dela, que estejas onde estiveres estás muito orgulhoso, porque "sempre amaste muito a tua princesa"

Quem me dera que estivesses lá, só para te ver sorrir e para matar as saudades.



Ainda me aperta o coração*


16

Uma noite eu tive um sonho
sonhei que andava a passear na praia com o Senhor.
Vi que ficavam dois pares de pegadas na areia,
umas minhas e outras do Senhor.

A certa altura da minha vida,
eu olhei para as pegadas na areia.
Reparei que nos momentos mais difíceis havia apenas umas pegadas na areia.
"Senhor Tu disseste que ficarias sempre a meu lado",

"Senhor Tu disseste que ficarias sempre a meu lado".

Reparei que nas dificuldades havia apenas umas pegadas na areia.

Não compreendo porque me deixaste sozinho quando eu mais precisei de ti.
O Senhor respondeu-me:
"Meu querido filho, meu querido filho…”

O Senhor respondeu-me:
"Meu querido filho, meu querido filho

Nunca te deixaria só, principalmente nos momentos mais difíceis
Quando viste na areia apenas um par de pegadas,
foi quando eu te peguei ao colo, foi quando eu te peguei ao colo".

domingo, abril 03, 2011

15

Faz mais de um ano, avô, que não te escrevo.
Faz mais de um ano, que não venho pedir-te força, ou pelo menos tentar acreditar que sou forte (quando ambos sabemos que não o sou).

O mundo desaba à minha frente. Não aguento mais não falar, não chorar, não gritar. Ter de sorrir, de enfrentar, de viver.

Não aguento mais perguntar a mim própria como vai ser se ela deixar de estar cá, se ela não estiver mais para falar comigo.
E se eu chamar por ela e ela já não responder? e se eu lhe pedir um beijo, e ela não ouvir? e quando procurar e não a encontrar? como vai ser?
Não vou conseguir outra vez avô.. já não estou a conseguir.

Não sou forte, e não sei o que fazer.
Preciso de ajuda avô. Ajuda-me.

Deixa-a comigo. Por favor.
Não vou conseguir outra vez.

Estou desesperada.
Não me roubem outro pedaço de mim. Já não sei a que me agarrar
A ti avô?

Desculpa se hoje não te falo das saudades que tenho tuas, mas tenho medo destas saudades dela, que ainda sem existirem, me atormentam todos os dias.
(eu sei que olhas pela mamã, desde o teu pedacinho de céu )

Eu, que tanto de preciso de ti, a tua poetisa.

quinta-feira, janeiro 21, 2010

14

Já cá não vinha há muito.

Vim dizer-te que estou a estagiar no HSFX, onde estão pessoas com doenças como a tua.
Era assim que estavas avô? Era num sitio como aquele? com aquelas camas, aquelas pessoas, aqueles tubos, aquela fragilidade?

Não consigo entrar la um dia que seja, sem que não pense em ti. Sem que não te veja em cada um daqueles senhores que são uma mistura de força e medo.
Também te sentias sozinho? Eles sentem-se sabes.. Só agora percebo a força de dar a mão, de estar la, de dizer não desistas.

E sinto-te em cada doente que trato, e sabe Deus o medo que tenho de os perder, como te perdi a ti. Sabe Deus como a dor que sinto, tira-me as forças que pensei ter.

Tenho medo de falhar, como falhei contigo.



Sabes qual é o maior medo que se pode sentir avô? É o medo da perda.
E sabes qual é o pior sentimento que se pode ter? É o da saudade eterna.
E que direito tem Deus, de permitir que sintamos isso? Que direito tem Deus, de ameaçar levar a quem sem eles é quase impossivel viver, e quando realmente os leva, que direito Tem de nos deixar com uma saudade que nunca vamos conseguir matar?

Antes fosse uma pedra que nada sente.



Não permitas que a leve avô.. Não permitas que sinta tudo de novo.
Desta vez não vou aguentar. Sabes a falta que ela me faz.

Já nem sei escrever daquela maneira..



"perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido" amen




Cuida da mamã. Por favor.
A tua poetisa

sábado, janeiro 31, 2009

13

as campas deviam ser abraçaveis.
era so isso que eu precisava agora. um abraço teu
quantos abraços futilizamos por dia?

quarta-feira, junho 04, 2008

Leva-me....
É preferível morrer de uma vez, a morrer assim aos bocados.

quinta-feira, março 27, 2008

12

Já não vim cá resmungar, pela quarta vez, por não me teres ligado quando fiz 20 anos.

Tenho-te sentido tão longe avô.
Não estou a conseguir sem ti. Não posso dar-te a mão para ter força. Não estou a conseguir continuar.

Sabes que conheci pessoas más? Pessoas diferentes daquelas que tu me fizeste acreditar que existiam. Pessoas que magoam e que são mesquinhas e egocêntricas e não sabem o que significa amizade ou dar a mão. Secalhar porque não tiveram um avô que lhes explicasse a importância disso.
Eu sei que sempre sonhaste com o dia em que entraria na faculdade.. sempre disseste que devia estar em letras (não sei porque.. as palavras apenas faziam sentido quando estava contigo). Desculpa se te contrariei. Secalhar, num outro sitio, não estava agora a escrever isto, com a cara encharcada em lágrimas.

Desculpa se te desiludi.

Porque não me ensinaste que o mundo cá fora é assim? porque me fizeste acreditar que as pessoas são todas bonitas e crescidas e que têm sempre uma mão esticada para outra pessoa agarrar?
Acho que me estou a tornar igual a elas.

Afinal de contas, descobri que não podemos dar tudo o que temos cá dentro. As pessoas más simplesmente não o respeitam ou sabem cuidar. São (quase) todos um mundo de aparências - e nunca me foi tão difícil descodificar sorrisos. São perfeitos demais nesse jogo de esconde e revela que não chego a perceber.
Afinal, as pessoas más excedem ou escasseiam as palavras. Palavras que sempre me ensinaste que são bonitas, que tudo na vida são palavras. Estas pessoas, são estranhos que silenciam os gritos e que prendem os gestos. A entrega prima pela escassez.. E nunca me explicaste que estas coisas podiam acontecer.

Agora já não sei quem sou. Acho que também me estou a tornar numa pessoa má.
Pela primeira vez, aqui, faltam-me as palavras. Tu nunca permitiste que isso acontecesse.
As palavras estão a ficar todas cá dentro. As boas e as más. E não sei como lidar com isto.
Já não sei dizer um "sim quero", um "gosto de ti", um "e eu de ti". Raramente sei admitir que tenho saudades ou que quero ficar num momento para sempre. Não sei responder a perguntas difíceis (mesmo que as ache fáceis ou saiba de cor as respostas) e quando isso acontece só sei chorar. E dói que ninguém saiba ler as lágrimas como tu o fazias. Ler as respostas que as palavras já não conseguem exprimir. Quero dizer tanto e fazer mais ainda. E só sei chorar. E ainda me culpam por isso.

Estou a tornar-me no quê avô?
Não quero perder as palavras. São a única coisa que liga a ti. As palavras que me deste e que guardo com a minha vida. Se perco as palavras, perco-te a ti. Se te perco, morro.
Este vaivém de palavras que o coração sabe e a boca cala, está a levar-te. Quero dizer tanto.
Mais do que o teu silêncio, dói o silêncio em que o mundo que não quero viver me está a deixar.
Não permitas que me levem as nossas palavras. Não permitas que ponha etiquetas nos pensamentos e que guarde tudo numa gaveta empoeirada na minha cabeça.
Estou a tornar-me num silêncio que é uma espécie de fuga. Fugir das coisas más, faz-me temer as coisas boas percebes? E minto quando digo que não disse nada, porque não haver nada p'ra dizer.

Levem-me tudo. Mas não as palavras.


.. se isso acontecer, oxalá morta te encontre e me dês a mão como mais ninguém o fez desde que me deixaste.

Estou a sentir-te tão longe avô.




Estavas tão certo quando dizias "a minha poetiza vê coisas onde os outros não vêem".
Achas que sou uma pessoa má avô?
Saudades e medo que te (nos) levem para sempre.