quinta-feira, janeiro 21, 2010

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Já cá não vinha há muito.

Vim dizer-te que estou a estagiar no HSFX, onde estão pessoas com doenças como a tua.
Era assim que estavas avô? Era num sitio como aquele? com aquelas camas, aquelas pessoas, aqueles tubos, aquela fragilidade?

Não consigo entrar la um dia que seja, sem que não pense em ti. Sem que não te veja em cada um daqueles senhores que são uma mistura de força e medo.
Também te sentias sozinho? Eles sentem-se sabes.. Só agora percebo a força de dar a mão, de estar la, de dizer não desistas.

E sinto-te em cada doente que trato, e sabe Deus o medo que tenho de os perder, como te perdi a ti. Sabe Deus como a dor que sinto, tira-me as forças que pensei ter.

Tenho medo de falhar, como falhei contigo.



Sabes qual é o maior medo que se pode sentir avô? É o medo da perda.
E sabes qual é o pior sentimento que se pode ter? É o da saudade eterna.
E que direito tem Deus, de permitir que sintamos isso? Que direito tem Deus, de ameaçar levar a quem sem eles é quase impossivel viver, e quando realmente os leva, que direito Tem de nos deixar com uma saudade que nunca vamos conseguir matar?

Antes fosse uma pedra que nada sente.



Não permitas que a leve avô.. Não permitas que sinta tudo de novo.
Desta vez não vou aguentar. Sabes a falta que ela me faz.

Já nem sei escrever daquela maneira..



"perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido" amen




Cuida da mamã. Por favor.
A tua poetisa