sexta-feira, junho 22, 2007

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Parabéns atrasados Avô.
Liguei-te mas atendeu-me uma senhora a dizer que o número não existe. Secalhar mudaste de número e esqueceste-te de me dizer.
Fui lá a casa mas a avó estava sozinha com um sorriso tonto.
Procurei-te no café da esquina mas não estavas.. tentei outros que sabia que tinham o teu wisky preferido, nem sinal de ti.
Sentei-me na berma do passeio à espera que chegasses de carro, mas começou a ficar frio e não tinha casaco. Tive que me ir embora antes que chegasses e me ralhasses por ficar doente.
Voltei a ligar-te, mas a senhora com o mesmo ritmo, disse as mesmas palavras.

Com quem festejaste os anos avô? Quem fez o teu prato favorito? Quem te serviu o teu wisky? Quem comprou os cigarros? Quem acendeu as tuas velas? tinhas velas nao tinhas?

Espero que estejas com alguém que pelo menos te trate como eu te tratei, mas que te mereça em toda a tua grandeza.
Sentada naquele passeio, tive mais saudades que nunca. Nunca esperei por ti com tanta força.
Nem daquela vez em que me perdi. Lembraste avô?

"não largues a mão do avô nunca"

Mas larguei. Fiquei parada a olhar para uma senhora que levava dezenas de balões em forma de sereia. Fiquei ali parada e larguei a tua mão. As pessoas empurravam-me ao andar e afastaram-me de ti.
Sentei-me no degrau de uma porta verde e velha. senti medo, tanto medo. Medo de que te tivesses ido para sempre. E fiquei ali. chorando, chorando, chorando.
E só pensava, porque te teria eu largado a mão contra a tua vontade? Irias voltar a encontrar-me? Ias gostar de mim da mesma maneira quando me reencontrasses?
Começou a ficar frio e vesti o casaco para que não me ralhasses mais ainda.
Aqueles minutos ali sozinha pareceram-me horas. Mas voltaste para trás por minha causa (como sempre fizeste) e os teus olhos estavam mais verdes do que nunca.. e não me ralhaste avô.. apenas voltaste a dizer "não largues a mão do avô nunca".
E voltámos para casa. Tu, eu, os pais, a avó, a mana. E o meu balão em forma de sereia.

No dia do teu aniversário, sentei-me na berma da estrada à espera que aparecesses (como sempre fizeste) com os olhos mais verdes do que nunca. Mas ficou frio cedo de mais e não voltaste a tempo.
Porque é que te larguei contra a tua vontade? Vais voltar a encontrar-me? Vais gostar da mesma maneira de mim quando me reencontrares?
Faz tanto frio todos os dias avô.. e todas as horas sem ti parecem anos. Séculos sem fim.
Voltei para casa. Sozinha.

"não largues a mão do avô nunca"

Pediste-me duas vezes. Duas vezes te falhei. Desculpa
.


Voltei a ter medo avô. Medo de que te tenhas ido para sempre.
Já nem sei dizer quanto te amo.. Acho que te amo quanto medo e quantas saudades tenho
Nunca mereci aquele balão.
A tua (sempre) poetisa